A Revolução sustentável da Finlândia e as oportunidades e necessidades que o Brasil enfrenta.
Em um mundo que clama por sustentabilidade, a Finlândia e o Brasil emergem como protagonistas na busca por um futuro de carbono zero, cada um enfrentando desafios únicos e aproveitando suas forças para transformar suas matrizes energéticas. A Finlândia, com seus invernos árticos e meses de escuridão, conseguiu reduzir drasticamente combustíveis fósseis e ampliar fontes limpas como bioenergia, eólica, solar, geotérmica, calor residual e eficiência energética. O Brasil, abençoado por sol abundante, ventos constantes e vastos recursos naturais, também avança, com um potencial imenso para liderar globalmente. Esta matéria explora os últimos 15 anos (2010–2025) da transição energética desses países, destacando conquistas, lições mútuas e o que o Brasil pode aprender com a Finlândia para acelerar seu caminho rumo ao zero carbono.

Gás em declínio: O gás natural, antes importado da Rússia, perdeu espaço com a crise de 2022(guerra Russia x Ucrania) , caindo para usos industriais mínimos (IEA, 2023). A Finlândia apostou em alternativas como bioenergia e eólica, mostrando que é possível romper dependências fósseis.
Bioenergia liderando: A bioenergia, usando resíduos florestais, passou de 20% em 2010 para 28% em 2023, aquecendo lares e gerando eletricidade (Statistics Finland, 2024). “Nossas florestas são um tesouro, mas sabemos que precisamos usá-las com cuidado”, explica Mika, engenheiro florestal. O país investe em biocombustíveis avançados para reduzir a queima de madeira até 2040 (IEA, 2023).
Eólica em ascensão: A energia eólica, quase inexistente em 2010 (<1%), explodiu para 10–15% da eletricidade em 2025, com turbinas girando no Golfo de Bótnia (Euronews, 2025). Apesar dos ventos sazonais, a Finlândia planeja liderar com eólica até 2027.
Solar contra as odds: Mesmo com pouco sol, a solar cresceu para quase 1% da eletricidade, com painéis em telhados urbanos (Statistics Finland, 2024). “É um complemento, mas cada raio de sol conta”, diz Liisa, dona de uma casa com painéis solares.
Geotérmica inovadora: Em 2025, Vantaa lançou uma usina geotérmica para aquecimento, um marco para o clima ártico (YLE, 2025). Projetos em Espoo mostram o potencial para reduzir a dependência de combustíveis.
Calor residual: Helsinque aquece milhares de casas com calor de data centers e esgotos, como na usina Katri Vala, a maior bomba de calor do mundo (Helen, 2023). “Reaproveitar energia é como reciclar calor”, brinca Tuomas, técnico da usina.
Eficiência energética: Campanhas cortaram 10% do consumo em 2022–2023, com retrofits e tecnologias inteligentes. A meta é reduzir 20% até 2030, mesmo no frio (IEA, 2023).
Brasil hoje esta com pressa
Agora, imagine um país onde o sol brilha o ano todo, os ventos sopram constantes e os resíduos agrícolas abundam. Esse é o Brasil, com um potencial renovável invejável, mas que ainda caminha a passos lentos. Nos últimos 15 anos, o Brasil avançou em sua matriz energética total, mas enfrenta desafios para igualar a velocidade finlandesa.
Carvão em queda lenta: Em 2010, o carvão gerava 5% da eletricidade, concentrado no Sul (EPE, 2011). Em 2023, caiu para 3%, com usinas como Candiota (RS) ainda ativas (EPE, 2024). “Queremos fechar essas usinas, mas falta um plano claro”, admite João, Funcionário do governo. Em 2025, espera-se 2–3% Segundo Aneel fechou 2024 com 1,75%, sem prazo firme para eliminação (EPE, 2024).
Gás natural persistente: O gás representava 10% da eletricidade em 2010, subindo para 15% em 2023 com o pré-sal (EPE, 2024). Apesar de chamado de “transição”, atrasa a descarbonização. “Temos sol e vento, por que insistir no gás?”, questiona Maria, engenheira de na área de recursos renováveis. Em 2025, deve ficar em 12–15% (EPE, 2024).
Bioenergia gigante: O Brasil é rei do etanol, com bioenergia (bagaço de cana, etanol, lenha) hoje o etanol de milho ganhou uma grande relevância, mantendo 25–28% do consumo energético desde 2010 (EPE, 2024). Em 2023, a biomassa gerou 4,6% da eletricidade (3.218 MW médios), com bagaço liderando (12.410 MW instalados) (Ministério de Minas e Energia, 2024). “O bagaço da cana é ouro, mas precisamos explorar mais resíduos, como casca de arroz”, sugere Carlos, agricultor no interior de RS
Geotérmica parada: Apesar de potencial em áreas como Caldas Novas (GO), a geotérmica segue inexplorada (EPE, 2024). “É uma pena, poderia complementar nosso mix”, lamenta Sofia, geóloga.
Calor residual tímido: Projetos piloto em São Paulo e Rio capturam calor de indústrias, mas falta escala (EPE, 2024). “Se Helsinque faz isso, por que não nossas cidades?”, pergunta Rafael, urbanista.
Eficiência energética: Programas como Procel reduziram perdas, mas o progresso é lento por falta de incentivos amplos (EPE, 2024). Em 2025, avanços são modestos (EPE, 2024).
A Finlândia prova que barreiras climáticas não param a sustentabilidade. De 20% de renováveis limpas em 2010, passou a 35–40% em 2023, com fósseis quase eliminados (Statistics Finland, 2024). O Brasil foi de 25% para 30–35%, mas mantém fósseis (~15%) por escolhas políticas (EPE, 2024). Na eletricidade, a Finlândia tem 30–35% de bioenergia, eólica e solar, enquanto o Brasil chega a 30% (EPE, 2024).
Finlândia ensina: Metas claras (lei de 2019 baniu carvão), ação rápida (crise de 2022 acelerou renováveis) e consenso político (Helsinque mira 2030) foram cruciais (Governo da Finlândia, 2019; Euronews, 2025). “Quando todos remam juntos, o barco voa”, diz Kaisa, ativista finlandesa.
Brasil avança, mas hesita: Leilões de eólica e solar desde 2010 impulsionaram renováveis, mas o Plano Decenal 2030 não bane fósseis, e gargalos regulatórios atrasam (EPE, 2024). “Temos tudo para liderar, mas falta vontade política firme”, reflete Clara, analista de energia.
O potencial brasileiro
O Brasil tem vantagens que a Finlândia invejaria:
- Clima: Sol e ventos constantes permitem eólica e solar em escala (EPE, 2024).
- Recursos: Bagaço de cana, casca de arroz e outros resíduos superam florestas finlandesas (Ministério de Minas e Energia, 2024).
- Escala: Um país-continente pode multiplicar fazendas solares e eólicas (EPE, 2024).
- Demanda: Sem aquecimento intensivo, energia vai para crescimento sustentável (EPE, 2024).
Legislações para o Brasil voar
Para superar a Finlândia, o Brasil precisa de:
- Banir fósseis: Lei para zerar carvão (2030) e gás (2035), como a Finlândia fez (IEA, 2023).
- Impulsionar renováveis: Subsídios para eólica offshore, solar distribuída e bioenergia de resíduos (EPE, 2024).
- Eficiência: Retrofits obrigatórios em prédios públicos e incentivos a tecnologias inteligentes (IEA, 2023).
- Bioenergia sustentável: Certificação para evitar desmatamento
- Calor residual: Parcerias para integrar calor em cidades, inspiradas em Helsinque (Helen, 2023).
Um futuro compartilhado
A Finlândia mostra que o impossível é só uma questão de vontade. Com políticas ágeis, eliminou fósseis e abraçou renováveis, mesmo no gelo. O Brasil, com sol, vento e vida pulsando, já é um gigante verde — só precisa correr mais rápido. “Se eles conseguiram no frio, nós podemos brilhar no calor”, sonha Luiza, estudante de engenharia no Recife. Que a história finlandesa inspire o Brasil a liderar a transição energética global, com energia limpa para todos.
Fontes:
- IEA (2023): https://www.iea.org/reports/finland-2023
- Statistics Finland (2010–2024): https://www.stat.fi/en/statistics/ene
- Euronews (2025): https://www.euronews.com/green/2025/03/31/how-finland-has-replaced-coal-power-with-wind-in-less-than-10-years
- YLE (2025): https://yle.fi/a/74-20127975
- Helen (2023): https://www.helen.fi/en/company/energy/heat
- EPE (2011–2024): https://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/boletim-anual-de-energia
- Ministério de Minas e Energia (2024): https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/noticias/2024/brasil-registra-recorde-de-geracao-de-energia-por-biomassa-em-2023
- Governo da Finlândia (2019): https://valtioneuvosto.fi/en/article/-/asset_publisher/1410877/hallitus-paatti-hiilen-energiakayton-lopettamisesta-vuoteen-2029-mennessa
Comentários: